Falta de transportes atinge em cheio os trabalhadores autônomos
Fonte: G1
Com o reduzido número de ônibus, pedreiros, encanadores, eletricistas e outros sofrem na fila do transporte ou atendem a pé.
O impacto da grave no sistema de transportes prejudicou especialmente quem trabalha por conta própria e não pode parar para conseguir pagar as contas.
Todo tipo de manutenção doméstica num só lugar. A central de serviços existe há 40 anos e nunca teve que recusar tantos clientes. “Nós não conseguimos fazer devido à essa crise. Estamos com poucos funcionários. Hoje é só emergência mesmo”, dizia a funcionária, ao telefone, quando um cliente ligava.
O quadro com o nome dos profissionais que trabalham para a empresa – encanadores, eletricistas, pedreiros e outros – só tinha quatro disponíveis em quase 20. E trabalhando em condições piores, sem condução própria. “Por motivo de combustível é a primeira vez, que atendemos clientes a pé”, afirma o encanador e eletricista Joaquim Maria Duarte Neto.
A lógica tem sido selecionar os clientes pela distância. “Se a gente vai atender um cliente mais longe, ficaríamos o dia inteiro para atender aquele apenas, sabendo que poderíamos atender dois ou três aqui mais próximo”, explica o dono da empresa, Anderson Anselmo de Andrade.
Na mochila, um mínimo de ferramentas. E lá vai o Cláudio resolver um vazamento de água. Além da caminhada, ele ainda precisa de ajuda para encontrar o ponto de ônibus. Não está acostumado: “Eu trabalho só com carro, não tem como trabalhar a pé. De ônibus fica muito difícil”.
O ônibus nem demorou tanto. Mas de carro, ele chegaria pelo menos meia hora antes. E o cliente já estava esperando há várias horas.
Seu Benedito da Rocha Leal, que é pedreiro, também foi trabalhar de ônibus. A Prefeitura de São Paulo diz que 70% deles estão circulando, mas os pontos ficaram bem cheios nos horários de maior movimento. Seu Benedito enfrentou fila, mas a viagem até a obra foi inútil: “O rapaz não tinha combustível no carro para levar o material para trabalhar”.
Chegar ao trabalho também não foi fácil no Rio. Só 40% dos ônibus do BRT, o corredor expresso, circularam nesta segunda (28). Com longas esperas e muito sacrifício. “Empurra, empurra, soco na cabeça, cotovelada, bolsa arrebentada”, reclamou uma passageira.
Dos ônibus convencionais, só rodaram 46% na cidade e 40% no estado. “Espero conseguir chegar no trabalho, né?”, dizia quem estava nos pontos.
Em Florianópolis, situação um pouco melhor, com 60% da frota operando. Em Goiânia, 85%. “Se normalmente já é difícil, pensa hoje, que já anunciaram que vai ter menos”, lamentava uma passageira.
Teresina teve só metade dos ônibus em circulação e as empresas dizem que não têm combustível para esta terça-feira (29). No Recife e em Curitiba, funcionamento normal. Mas em Ponta Grossa, no interior do Paraná, um ônibus acabou pichado num bloqueio. A empresa suspendeu sete linhas que passavam pelo local.
Transporte público não atende a necessidade de Ana Pires. Ela é artesã e precisa do carro para entregar os enfeites que produz. Já recusou 12 pedidos nos últimos dias: “Isso impacta na minha renda em torno de 25% mais ou menos. Esses quatro dias. Porque foram pedidos bons”.
Ela preferiu guardar o combustível que ainda tem no carro. O filho de dois anos tem asma: “Se acontecer alguma coisa e ele precisar ir pro hospital, a gente tem como levá-lo”.