Sindicatos de trabalhadores e políticos pedem saída de Abilio

Fonte: Valor

A crise no comando da BRF ultrapassou a esfera da disputa entre os principais acionistas da empresa. Tornou-se tema de sindicatos e políticos.

A iniciativa das fundações Previ e Petros, detentoras de 22% do capital da companhia, de pedir a reforma do conselho de administração e a saída do empresário Abilio Diniz recebeu manifestações públicas de apoio de cinco sindicatos e do senador Paulo Bauer, líder do PSDB na casa e candidato ao governo de Santa Catarina.

Abilio foi frontalmente criticado. Ambas as demonstrações – dos trabalhadores e do senador – personificaram no empresário os problemas da BRF. A companhia amargou prejuízos de R$ 370 milhões e R$ 1,1 bilhão, em 2016 e no ano passado, respectivamente.

No caso dos sindicatos, além da defesa do movimento dos fundos de pensão em nota pública, houve duros comentários contra o pacote de retenção de até R$ 41 milhões aprovado recentemente pelo conselho da empresa. “Esta decisão é um escárnio”, diz o anúncio de ontem assinado pela Força Sindical, Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de São Paulo, Federação das Indústrias de Carnes, Alimentação e Afins de Santa Catarina e Sindicato da Alimentação de São Paulo.

O senador Bauer disse em discurso no plenário na quarta-feira que vai exigir “que os fundos de pensão tomem a posição correta, substituindo a totalidade dos conselheiros e, como consequência, os dirigentes da empresa.” Ele alegou que a questão é “improrrogável para o bem da economia de Santa Catarina e do Brasil”. Com sede em Itajaí, a BRF é a maior empresa instalada no Estado de Bauer. Ele relatou que em 2017 esteve com Michel Temer e solicitou que o presidente chamasse a atenção dos fundos de pensão para a situação. Conforme o senador, outros parlamentares e três governadores estiveram no encontro, na ocasião.

Consultados, Abilio e BRF não comentaram o assunto.

Filho do fundador do Grupo Pão de Açúcar e hoje grande investidor, Abilio assumiu a presidência do conselho de administração da BRF em abril de 2013, como resultado de movimento liderado pela gestora de recursos Tarpon – cujo sócio Pedro Andrade Faria presidiu a empresa de 2015 a 2017. A Previ foi, então, uma importante apoiadora da indicação de Abilio.

Na época, o empresário, que concluía a venda da companhia da família à rede francesa Casino, aplicou cerca de R$ 1,2 bilhão na compra ações da BRF, que valia então R$ 40 bilhões na bolsa. Ontem, fechou o pregão valendo menos da metade disso: R$ 18,3 bilhões.

Não é a primeira vez, durante a gestão de Abilio e Tarpon, que a remuneração dos executivos é alvo de críticas, por ser considerada elevada. No caso do pacote de retenção, contudo, não se trata de uma reserva apenas para o alto escalão. Conforme esclarecimento feito pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o plano tem como beneficiários não só diretores estatutários, mas um número muito maior de colaboradores não estatutários.

O valor devido aos cargos estatutários está dentro do total do pacote de remuneração que será levado à assembleia do dia 26 – mesmo encontro em que os acionistas decidirão a formação do conselho de administração. O total previsto para este ano é de R$ 86,7 milhões. No ano passado, apesar de a assembleia ter aprovado uma reserva de até R$ 99, 7 milhões para a diretoria e conselho, foram efetivamente pagos R$ 56,2 milhões (não houve a distribuição de participações nos lucros).

Ontem, a Aberdeen, gestora com 5% da BRF que apoia Petros e Previ pediu que a eleição do conselho seja feita por voto múltiplo. Assim, está encerrada a briga por “times”. Cada acionista distribuirá seus votos entre os candidatos.

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